O recuo do consumo francês de têxteis e moda registado tanto em 2008 (menos 3% em relação a 2007) como no primeiro trimestre de 2009 é pouco habitual, tendo em conta a tendência observada ao longo do período 1995-2008. Com efeito, segundo o Institut Français de la Mode (IFM), ao longo deste período o consumo aumentou, em média, 0,9% por ano. Poderá esta quebra ser interpretada como uma ruptura profunda no comportamento do consumo das famílias ou mais como um fenómeno conjuntural, correspondendo a um ajustamento à redução do consumo das famílias num contexto de crise? A questão é colocada pelo IFM, com base nos dados relativos ao consumo em França.
A quebra de 3% registada em 2008 corresponde a uma variação média que dissimula evoluções muito contrastantes, com algumas a apresentarem resultados menos deteriorados. Foi no final de 2008 que o consumo de artigos de moda e têxteis conheceu o recuo mais pronunciado: menos 4,7% ao longo do último trimestre de 2008, em relação a igual período de 2007; já os três primeiros trimestres sofreram recuos mais limitados, não atingindo os 3%.
De acordo com os diferentes segmentos de mercado, os consumos de vestuário masculino e infantil, por exemplo, resistiram melhor que o de vestuário feminino. Deste modo, as vendas de pronto-a-vestir masculino diminuíram apenas 1,1% em valor em 2008, enquanto que as vendas de vestuário infantil foram inferiores em 1,7% às de 2007.
Tratando-se de circuitos de distribuição, o volume de negócios das lojas populares conheceram mesmo um aumento de 2,5% no ano passado e os grandes armazéns totalizaram um resultado comparável ao do ano anterior (menos 0,8%). É de notar, numa análise mais cuidada, que a quebra de 3% do consumo resulta principalmente do recuo dos preços dos artigos comprados (menos 2,8% em média), em ligação, nomeadamente, com a multiplicação dos saldos e promoções. Não se trata, de acordo com o IFM, de uma rejeição no consumo de moda por parte dos consumidores. Uma grande parte destes ainda não modificou os seus hábitos de consumo. Um inquérito do IFM, efectuado no final do ano passado junto de uma amostra representativa superior a 1.000 pessoas, revelou que 46% das pessoas interrogadas tinham comprado, em 2008, tantas peças de vestuário como em períodos anteriores.
Por último, realça o IFM, o consumo de moda resiste melhor à crise porque se mantém como um produto sedutor e a atracção pela novidade constitui um dos seus principais motores. Não é estranho, por isso, que nestes tempos conturbados, algumas mudanças de atitude sejam imperceptíveis.
Ao longo do primeiro trimestre de 2009, o consumo de artigos de moda e têxteis acusou um recuo de 2,6% em valor comparativamente com igual período de 2008. Embora esta evolução corresponda a uma retracção de menor amplitude do que a observada no quarto trimestre de 2008, a procura mantém-se imersa numa tendência em baixa. Nesse contexto, os consumidores estão cada vez mais atentos ao critério preço. Não é de surpreender, por isso, a constatação de que foi no período de saldos, em Janeiro, que as vendas tiveram o seu melhor resultado ao longo do trimestre: mais 3,1% em valor em relação a Janeiro de 2008. Além disso, explica o IFM, a instauração de semanas de saldos flutuantes, no quadro da Lei de Modernização da Economia, permite aos distribuidores relançar – ao que parece com algum sucesso – as vendas durante a estação. Há, por isso, fortes indicações de que o preço se vai tornar em 2009 um eixo central da estratégia dos distribuidores e a parte dos saldos e promoções, que representou 31,6% do volume de negócios em 2008, deverá atingir um novo recorde este ano. As estatísticas das importações do primeiro trimestre de 2009 revelam também um forte impulso das importações francesas de vestuário provenientes da Ásia (mais 9%), em detrimento das produções europeias e mediterrânicas (menos 12%).
In “Jornal Têxtil”
Em Portugal vamos encontrar também esta tendência para as marcas lançarem cada vez mais promoções ou saldos para relançar as suas vendas. Por todo o mundo, os consumidores deixaram de adquirir mais marcas de luxo e passaram a investir em marcas mais acessíveis, ainda que de qualidade. O mercado tem possibilidade de crescer, mas terá que se adaptar a estas alterações de comportamento de consumo.
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